Felca, aprenda a comprar as brigas certas em sua vida com McLuhan

in #felca6 days ago (edited)

Felipe Bressanim Pereira, conhecido na internet como Felca, teve uma conversa aberta e sensível com Renato Cariani e Júlio Balestrin, dois nomes bastante conhecidos no universo fitness e do fisiculturismo. O jovem humorista não faz vídeos há mais de um mês por conta da depressão e do uso do álcool como uma válvula de escape contra seus demônios.

Ele pede aos treinadores um pouco de paciência para se recuperar, pois não se trata de sua primeira recaída. Várias entrevistas e cortes nas plataformas de streaming de vídeos contém relatos claros de que o seu quadro é grave.

Cariani, inclusive, relatou que seu próprio filho tem depressão e, em um dado momento, desenvolveu psicose. Lidar com esse tipo de situação exige, além de empatia, afeto e compreensão, entender quais são os fatores tanto externos quanto internos que podem vir a agravar um quadro clínico. Nesse sentido, McLuhan escreveu algumas linhas, ainda que não diretamente relacionadas à patologia.

A mensagem de uma briga

Nos últimos meses, Felca dedicou boa parte da sua produção de conteúdo para combater as casas de apostas e cassinos online. Seu tom usual, humoristicamente cínico e sarcástico, foi substituído por uma linguagem mais agressiva e incisiva em relação aos que defendem a livre publicidade desses serviços.

Se McLuhan ainda estivesse vivo, provavelmente diria que a mensagem da briga do influenciador não reside somente no conteúdo de suas denúncias, mas no ato de engajar através dos meios pelos quais ele manifesta o seu pensamento – as plataformas digitais, conhecidas pelas manifestações muitas vezes caóticas dos usuários.

Nesse contexto, as redes sociais atuam como um agente amplificador e gerador de pressão social, visto tratar-se de um meio naturalmente reativo.

Além do mais, a “cobrança” por parte da audiência não reserva espaço para sossego: as plataformas estão disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo feriados. Esse ritmo frenético e exaustivo tende a ser ainda mais penoso aos que sofrem de condições mentais delicadas.

Pessoas que sofrem de depressão, ansiedade e outros transtornos precisam tomar cuidados muito específicos em relação aos seus limites pessoais. Por outro lado, o meio digital “borra”, em certa medida, essa fronteira. Embora aparentemente bem-intencionado e genuíno em suas declarações, Felca protagonizou um ataque que invadiu sua esfera pessoal, dificultando a desconexão e o repouso mental.

A lição de McLuhan está no cerne de sua teoria

Seria ingenuidade acreditar que a briga contra as bets não teve efeitos diretos sobre a condição do jovem rapaz. “O meio é a mensagem” deixa isso muito claro: todos os que desejam crescer e aparecer nas redes sociais devem ter em mente que não existem canais neutros de comunicação.

Independentemente do quão coerente ou virtuoso seja o conteúdo, sempre haverá maus atores sedentos por sangue. Todos, especialmente os que possuem transtornos psíquicos, precisam estar de acordo com esse ônus para que sejam capazes de se prepararem para o pior.

Todos os que têm acesso à internet estão suscetíveis aos efeitos transformadores dos meios de comunicação digitais. Mesmo indivíduos discretos podem, vez ou outra, sofrer desgastes em menor escala, como discussões pontuais em comentários ou posts tirados de contexto; por esse motivo, mesmo os que não são especialistas em comunicação precisam ter conhecimentos básicos sobre o tema.

A mensagem mais dolorosa, infelizmente, foi a do próprio meio. Caso o streamer resolva continuar sua carreira, que ele nunca mais subestime o poder da sua própria palavra e da força dos algozes reunidos em grandes números, a exemplo do que LeBon teorizou sobre a psicologia das massas, na década de 1890.

Esta mensagem se estende a todos os leitores: o contágio mental é real e inevitável. Mas tornar-se refém desse fenômeno é, na grande maioria das vezes, opcional.

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